terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Happy New Year!!

[Escrito no dia 15 de Janeiro de 2008, às 02h34min].

Minha primeira postagem do ano. Considerando que inventaram de fazer uma manutenção na minha área e estou sem internet até as 04h00min. Estou escrevendo e amanhã posto, pois espero estar dormindo quando a internet voltar.
Tomei banho, comi uma pamonha, fumei um cigarro e estou sentindo vontade de falar sobre o meu maior dilema... Engraçado como quando estou sozinho, ou tomando banho, ou fumando um cigarro as idéias me vêem a cabeça e a vontade de desabafar é imensa.
Então... Meu maior dilema é: Religião X Sexualidade


Desde os meus 14 anos eu faço parte de uma igreja e por muito tempo ela foi a base da minha vida e tudo que eu fazia era relacionado a ela...
Eu já havia sentido atração por garotos, mas nunca tinha feito nada do tipo. Até fui apaixonado por um garoto da escola quando tinha 12. Mas quando me filiei à igreja, achei que lá encontraria forças pra sobrepujar os meus desejos e sentimentos.
O tempo foi passando e mesmo eu não fazendo nada, aqueles sentimentos continuavam em mim, e junto com eles o pensamento de que eu devia ser forte e resistir a tudo isso.
Com 14 anos eu me apaixonei mais uma vez por um rapaz e sinceramente achava que aquilo era uma prova de fé, e que eu deveria continuar forte.
O tempo continuou passando e eu via que ao invés de eu ser curado, aquilo só crescia dentro mim. A cada homem que eu via na rua, os meus pensamentos se tornavam mais incontroláveis.
Achei que a solução seria arrumar uma namorada, porque assim minha mente se concentraria em outra coisa, e eu achava que as coisas se tornariam mais fáceis.
Eu não encontrava nenhuma garota por quem eu me interessasse, até que com 16 anos, eu encontrei uma moça legal, que era muito minha amiga e que eu via que gostava de mim. Um dia nós estávamos conversando e eu dei um beijo nela... Não posso negar que foi bom, mas não foi nada do que eu imaginava. Senti menos do que sentia nos meus pensamentos com garotos, mas mesmo assim resolvi insistir. Depois de alguns dias nos encontrando e ficando, eu a pedi em namoro. Ela ficou muito feliz com meu pedido e aceitou de cara.
Encontrávamos-nos quase todos os dias e era legal a idéia de ter uma namorada, mesmo não sendo nada parecido com o que eu realmente queria.
Até que as coisas foram ficando chatas. Ela tinha muito ciúme e era muito melosa. Se eu passasse um dia sem ir à casa dela, já era motivo dela ficar chateada e fazer mil dramas. Nisso eu comecei a gostar de um amigo meu, e o ponto crucial do meu namoro com ela foi no dia do seu aniversário... Eu a levei ao shopping pra que comprássemos um presente pra ela, só que quando entramos na loja, de cara vi uma coisa que meu amigo adoraria, e ela notou o meu entusiasmo pra comprar aquilo pra ele... Na verdade bem maior do que o entusiasmo de comprar o dela... Escolhemos um presente pra ela e acabei comprando o presente pro meu amigo também. Voltamos pra casa e ela já estava triste, por ter notado, indiretamente que eu gostava do Charles.
Quando chegamos na casa dela, tinham feito uma festa surpresa e isso fez com que ela ficasse mais alegre, mas a única coisa na qual eu pensava era ir embora pra ir na casa do Charles entregar o presente... Agüentei o máximo que pude, me despedi de todos, fiquei um pouco a sós com ela e fui embora, Fui direto entregar o presente, e ele ficou tão feliz que fez meu dia valer a pena.
A cada dia que passava, eu dava menos atenção a ela e ela sentia isso.
Até que um dia ela me chamou pra conversar e disse que tinha notado que eu não gostava dela do jeito que ela queria que eu gostasse e que era melhor que nós terminássemos. Fiquei um pouco triste, pois já estava acostumado com aquilo, mas também me sentia livre, por não que fingir mais nada.
Nada aconteceu com o Charles, pois ele era totalmente hétero.
Até então eu não conhecia nenhum gay. Tudo que eu via era na TV e achava que isso era a coisa mais rara do mundo, e que só havia um gay por cidade, até que quando eu tinha 17 anos, um dos meus melhores amigos me confessou que era gay.
Eu comecei a tremer, querer chorar, rir, correr, sei lá... Pois nunca tinha conhecido alguém assim e em seguida ele me contou que gostava de um rapaz e tal. Duas semanas depois eu criei coragem e contei pra ele que eu também era (ele ficou com um pouquinho de raiva, porque em um jogo da verdade ele já tinha me feito essa pergunta, e eu respondi que não, mas depois me entendeu, por causa da minha insegurança e o medo que eu tinha)... Éramos muito amigos e conversávamos bastante sobre isso.
Depois dessa conversa que tivemos, senti uma forte vontade de ter alguma coisa com um garoto, e comecei a conhecer pessoas pela internet e fui vendo que não era tão incomum quanto eu pensava. Marquei encontros com alguns outros garotos e sempre acontecia um dos três casos: Não ir ao encontro; Ir e não gostar do rapaz ou ir, gostar, mas a religião me bater à consciência me dizendo que eu não deveria.
Todas as tentativas foram frustradas, mas acabei fazendo alguns amigos.
Quando eu já tinha 18 anos, um desses rapazes que eu tinha conhecido (só pela internet até então) e tinha ficado muito amigo me ligou e disse que iria numa festa perto da minha casa e que seria legal nos encontrarmos em algum lugar por ali. Eu concordei e nos encontramos. Conversamos muito, ele comprou algumas bebidas e eu nunca tinha bebido, por causa dos ensinamentos que tinha tido na igreja, mas nesse dia acabei bebendo um pouco de vinho, o suficiente pra me deixar tonto. Com medo de minha mãe notar que eu tinha bebido, fui pra casa e ele foi pra festa.
Na semana seguinte ele me liga me chamando pra ir num festival de música eletrônica que iria acontecer aqui em Brasília.
Fomos.
Chegando lá, ele me levou direto em uma das tendas onde os gays se reuniam. Fiquei chocado, pois nunca tinha visto dois homens se beijando pessoalmente, mas aquilo me parecia ser muito bom e como já tinha bebido um pouco, queria muito experimentar. Dessa vez nem lembrei de religião.
Logo notei um rapaz dançando perto de mim, e me olhando muito. Achei-o interessante e queria ficar com ele, mas quem tomaria a iniciativa? Já que eu nunca conseguiria. Retribui discretamente alguns olhares e ele continuava ali me rondando. Até que não o vi mais. Fiquei com muita raiva de mim, por não ter tido coragem de tocar nele. Nisso senti alguém tocando no meu ombro e me chamando. Quando virei era ele e ele disse “Estou te olhando há algum tempo e não agüentava mais. O que eu preciso fazer pra beijar sua boca?”. A resposta foi intuitiva e um tanto oferecida. Eu disse “A única coisa que você precisa fazer é simplesmente me beijar”.
E lá se foi... Meu primeiro beijo num garoto... Eu via estrelas. Ouvia sinos. Finalmente tinha sido da forma como eu imaginava; Da forma como eu queria que fosse. Ficamos a noite inteira e ele me deu o telefone dele, mas nem chegamos a nos encontrar depois disso... E eu nem me importava com aquilo, pois não senti nada a mais por ele... Mas o beijo (ou melhor, os muitos beijos durante a noite), foram ótimos.
Depois disso saí algumas vezes e fiquei com alguns garotos. Mas sempre no dia seguinte, a consciência e os ensinamentos que eu tinha tido na igreja me batiam a porta e isso me fazia sofrer muito.
Me sentia a pior pessoa do mundo e não queria que aquilo acontecesse de novo, mas eu simplesmente não conseguia parar.
Quatro meses depois conheci o Rodrigo na balada. Ficamos nesse dia e nos entrosamos muito bem... Pela primeira vez tínhamos conversado mais do que beijado.
Acabamos namorando e foi com ele que tive minha primeira vez.
Parei de ir à igreja.
Senti muita vontade de contar pra minha mãe que eu era gay e que estava namorando. Até que um dia, sentado na cama ao lado dela, eu falei “Mãe! Eu quero te contar uma coisa. Eu sou gay!” sem nem olhar no rosto dela. Ela só disse “Saí de perto de mim. Vai pro seu quarto”. Obedeci e nem consegui dormir aquela noite imaginando o que ela tava pensando. No dia seguinte fui trabalhar e quando cheguei em casa ela falou. “Vai no meu quarto que quero conversar com você”, fui e ela assim que entrei disse “Filho. O que você falou ontem era verdade ou só brincadeira?” Eu respondi que era verdade e que eu não tinha motivo nenhum pra brincar com uma coisa dessas. E ela disse “Eu passei o dia todo hoje querendo chorar, sem conseguir parar de pensar nisso, mas no fim das contas eu pensei ‘Chorar vai adiantar alguma coisa? Chorar vai te fazer mudar? NÃO’ então o que tenho que fazer é te apoiar, porque te amo”. Nunca imaginei que aquelas seriam as palavras dela. Já estava esperando o fim do mundo. Continuamos conversando por muito tempo e contei que eu estava namorado e ela mesmo que nem um pouco acostumada com aquela situação e um pouco desconfortável, fazia uma força pra me ouvir. Ela fez milhões de perguntas sobre ele, eu mostrei uma foto, mas quando falei sobre a possibilidade de levar ele lá em casa, ela fez uma cara feia e disse que era melhor que não.
Na semana seguinte, eu e o Rodrigo estávamos no shopping e me deu muita vontade de apresentar ele à minha mãe. Então só liguei pra ela e disse “Mãe, prepara o jantar que eu e o Rodrigo estamos indo praí”, só a ouvi dizendo “Você ta louco?” e eu respondi “Não adianta reclamar. Estamos indo. Tchau”. Quando chegamos eu o apresentei a ela e ela tava muito sem graça com aquela situação. Jantamos e no final das contas eles ficaram até 2 horas da manhã conversando, enquanto eu já tinha ido dormir. Ficaram grandes amigos e ainda são, mesmo tendo terminado há bastante tempo com ele. Ela até já me disse algumas vezes “Filho, volta com o Rodrigo... ele é tão bom”. Mas não gosto mais nem um pouco dele.

Depois disso fiquei meio recluso e não gostava muito de sair.
Os missionários da igreja na qual eu freqüentava começaram a me visitar constantemente me convidando a voltar a igreja. Sempre tive um contato muito próximo com os missionários da igreja. São pessoas maravilhosas.
Só pra me entenderem melhor sou membro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias... Somos mais conhecidos como os Mórmons.
Até um filme já foi feito sobre um missionário mórmon [Latter-Days] e esse de fato de tornou o filme da minha vida, por haver uma grande identificação.
Nisso que eles voltaram a me visitar constantemente nós ficamos muito amigos, e eu estava me sentindo muito vazio. Acabei voltando pra igreja. Dessa vez não sei bem se foi por algo espiritual ou pelo carinho que eles estavam me trazendo.
Nesse mesmo tempo minha mãe e uma das minhas irmãs também se tornaram membros da igreja, e isso foi de certa forma uma grande força pra eu voltar à igreja.
Só que depois de uns 6 meses algo que eu não esperava aconteceu.
Eu comecei a me sentir muito atraído por um dos missionários. E o melhor [Ou pior] ele também estava se sentindo atraído por mim...
Já éramos bem amigos e num certo dia eu resolvi conversar com ele e contar sobre minha atração por pessoas do mesmo sexo... E ele acabou me confidenciando o mesmo segredo. Nesse dia ficou por isso mesmo.
Até que um dia nós estávamos no banheiro da igreja e nossa troca de olhares foi tão profunda, que acabamos nos beijando. A partir daí já era irreversível... Cada dia nós nos envolvíamos mais e junto disso a nossa dor, por estarmos fazendo algo que era-nos ensinado a não fazer, pois não era coisa de Deus.
Com o tempo ele foi cada dia se sentindo mais mal, por ser um missionário e ensinar às pessoas coisas que ele não vivia. Até que um dia ele resolveu pedir pra terminar a missão e teve que contar o que estava acontecendo.
Nós dois fomos desassociados da igreja. Isso não significa uma excomunhão, mas sim, uma perda de deveres na igreja. Não podemos dar aulas, e coisas do tipo... Coisas mais relacionadas à liderança. E ele teve que voltar pra casa, assim como acontece no filme Latter-Days, sendo que depois que ele voltou pra casa, as coisas não foram tão difíceis como forma pro personagem no filme.
Isso tudo que aconteceu me deixou um grande vazio... Não porque eu sentia algo por ele, porque na verdade não sentia nada além de atração... Mas eu já estava tão envolvido com aquilo, que me fez falta.
Eu continuei na igreja... E períodos de idas e vindas.
Fiz muitos novos amigos e acabei me afastando de vez da igreja.
Conheci coisas que preferia não ter conhecido...
Comecei a beber muito. Vida de sexo sem sentimento. Comecei a fumar. E até mesmo conheci o mundo das drogas... Coisas que não me fizeram melhor em nada, só abafaram o que eu sentia no momento.
Tive algumas experiências espirituais e isso me fazia cada vez querer mais me tornar uma pessoa certa... E isso me deu força pra me livrar de algumas coisas ruins.
Hoje sou bem mais controlado.
Não uso mais drogas. Bebo controladamente. Tenho diminuído o fumo. E estou quase um celibatário [hehehe], e tenho procurado uma paz comigo mesmo...

A igreja é muito importante pra mim. É algo que me ensinou bons princípios que por um tempo o mundo conseguiu roubar. Só que pra me tornar pleno na minha crença, eu deveria deixar de ser gay. E aí entra minha maior dor, pois não consigo.
Se eu pudesse mudar, com certeza eu faria, mas não posso.
E nem sinto que as coisas que eu sinta venham do diabo.
Não acredito que Deus seja tão injusto de condenar uma pessoa por ela ter amado outra. Independente da forma, é AMOR.. E amor como citado em Conríntios 13 é o dom supremo.
Por enquanto tenho freqüentado a igreja, mas não tenho me fechado pro amor.
Fechei-me sim pra promiscuidade, porque isso não me fazia bem em nenhum dos sentidos da minha vida, mas não vou mais me condenar e exitar se me aparecer a oportunidade de viver um grande amor.


Espero que depois dessa mini-biografia, vocês me conheçam melhor e saibam o que sinto. Apesar dessa dualidade ainda me atormentar bastante, eu tenho tentado viver da melhor forma. Desculpa se o post foi muito grande dessa vez, mas agradeço àqueles que tiveram a paciência de ler...
Boa Semana a todos!

Ouvindo: The Veronicas – Heavily Broken (Youtube)

2 Comentários:

Às 16 de janeiro de 2008 às 20:16 , Blogger Raphinha disse...

Quando li teu post me vi em várias partes dele.Parece que temos histórias parecidas...
Não me sinto culpado por todo, sempre me bate uma insegurança que tenta me destruir.Estpu tentando deixar mais o lado promiscuo e como vc disse Deus não deixará de me amar por eu amar outra pessoa.

Fiquei pensativo lendo esse post...

 
Às 12 de agosto de 2008 às 18:06 , Anonymous Anônimo disse...

Gostei muito de ler teu este post e queria trocar mais idéias com vc. Sou membro da igreja também, estou tentando voltar pra ela, depois de ter morado com outro homem por 3 anos e quase feito a mesma coisa recentemente.
É bom desabafar, mesmo que escrevendo, os ensinamentos a gente nunca esquece, meu bispo foi muito sábio no que disse pra mim "a resposta do pq vc nasceu assim só saberemos em uma outra vida"

 

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